A História
Sebastião, o barão de lavos,
sempre apresentou uma tendência ao homossexualismo, como é indicado pelo autor,
que cita os desejos de adolescência que o atormentavam. A história do livro
começa quando Sebastião conhece Eugênio, um efebo de 15 anos. Mesmo casado com
Elvira, a baronesa, Sebastião insiste em manter um relacionamento com o rapaz e
consegue seduzi-lo. Atraído pelas vantagens econômicas e sociais do
relacionamento, Eugênio cede aos desejos do barão, que se sente cada vez mais
apegado ao garoto.
O
sentimento é tão grande, que em determinado ponto da obra, o barão já não
consegue mais ficar longe do amado, e o traz para dentro de casa, recebendo
suas visitas frequentemente. No entanto, esse seu devaneio cai contra si, e
Eugênio sente-se atraído pela baronesa. Diante da reciprocidade de tal
sentimento, os dois entregam-se e passam a trair o barão dentro da sua própria
casa.
“O barão, desde esse instante, odiou-o entranhadamente. Sentia nele um competidor, um concorrente, um irmão no vício, doente da mesma desvirtuação sexual, escravo do mesmo sodomitismo, e, para mais, um rival! – com o desejo posto no mesmo objetivo...” (Cap. VII, p. 79)
O
adolescente vê a oportunidade e não a deixa passar, ele faz chantagens tanto
ao barão, quanto a baronesa e consegue arrancar tudo o que quer dos dois, que
ao cederem as suas ameaças acabam por destruir toda a riqueza do barão.
Desconfiado dos gastos da esposa e da traição, Sebastião traça um plano para
sanar suas dúvidas e descobre a dupla traição: a da esposa e a do amante.
Separado
da esposa e longe do amante, o barão empobrece e adoece, passando a receber
cuidados dos amigos e é justamente na casa de um desses amigos que ele encontra
novamente o amor. A filha de um amigo o atrai, mas já velho ele é desprezado
pela amada e morre em meio a uma algazarra de crianças após presenciar o
casamento do seu novo e frustrado amor.
Não podemos nos apegar apenas as obras
da literatura atual, pois as obras do passado também nos dizem muito e
além disso, através delas podemos entender as concepções das estéticas
literárias e entender as formas de vida, língua e sutilezas das décadas e
séculos passados.
O barão de lavos é uma obra de Abel
Botelho que se encaixa no período Naturalista de Portugal. Os autores
que seguiam essa escola literária analisavam a realidade de forma
objetiva, nua e crua como ela realmente era. Eles procuravam também,
através de suas obras, explicar mazelas, doenças e patologias que
assolavam a Sociedade da época, sempre procurando meios científicos para
basearem suas considerações.
E é exatamente isso que Abel Botelho
faz nessse romance. O autor invade a vida da personagem, denunciando e
apresentando o lado mais obscuro de sua personalidade. No livro, o
homossexualismo é tratado como uma doença e como tal, o autor explica
porque o personagem tem essa tendência, que segundo ele era genética, de
família.
“ Ao cabo, num desmedido horror de si mesmo, sem poder explicar-se como baixara àquela abjecção suprema, o barão balbuciou:
– Nunca ninguém te tinha feito isto...? Ao que o rapaz, filosofalmente, abotoando-se:
– Ainda ontem... um padre. Era preto. Deixou fulminado esta resposta de surpresa e de assombro o barão – Como!?... Então não era só ele?... Outros havia também que... E muitos, talvez, quem sabe?... Muitos, sim, provavelmente... Muitos! Bem mais do que ele, do que o mundo imaginava!
– E porque não?... Que fizera ele de condenável, no fim de contas?... – na subsequente vibração da insânia, aventurava. – Quem sabe uma palavra da natureza das coisas? Quem era capaz de com segurança lhe apontar a linha terminal entre a porcaria e o asseio? Quem de dizer-lhe onde começa o vício e acaba a virtude? ... Lérias! Não há ignomínias que se transmutam em glórias? ... Cristo, por exemplo! – E tinha um riso cínico.” (Cap. XIV, p.168)
– Nunca ninguém te tinha feito isto...? Ao que o rapaz, filosofalmente, abotoando-se:
– Ainda ontem... um padre. Era preto. Deixou fulminado esta resposta de surpresa e de assombro o barão – Como!?... Então não era só ele?... Outros havia também que... E muitos, talvez, quem sabe?... Muitos, sim, provavelmente... Muitos! Bem mais do que ele, do que o mundo imaginava!
– E porque não?... Que fizera ele de condenável, no fim de contas?... – na subsequente vibração da insânia, aventurava. – Quem sabe uma palavra da natureza das coisas? Quem era capaz de com segurança lhe apontar a linha terminal entre a porcaria e o asseio? Quem de dizer-lhe onde começa o vício e acaba a virtude? ... Lérias! Não há ignomínias que se transmutam em glórias? ... Cristo, por exemplo! – E tinha um riso cínico.” (Cap. XIV, p.168)
Outra denúncia diz respeito ao
adultério, assunto sempre constante nas obras realistas/naturalistas,
quem o diga Machado de Assis, principal nome dessa escola literária no
Brasil.
No mais, Abel Botelho constrói aos
nossos olhos um romance complexo, com muitos e intensos acontecimentos.
Vale ressaltar ainda a percepção que podemos apreender, a partir desta
obra, da língua portuguesa falada no século XIX, sejam nas diferenças
entre aquele e o português contemporâneo, sejam nas diferenças entre o
português brasileiro e o de Portugal.
E você, caro visitante, caro leitor, já conhece o livro? Já o leu? Quer
ler? Deixe nos comentários sua opinião, suas impressões de leitura,
enfim, deixe sua contribuição!
Título: O Barão de Lavos
Autor: Abel Botelho
Editora: Livraria Chaudron.
Nota: 5/5
Nota: 5/5
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