"Mas
o seu descompasso com o mundo chegava a ser cômico de tão grande: não
conseguiria acertar o passo com as coisas ao seu redor. Já tentara se pôr a par
do mundo e tornara-se apenas engraçado: uma das pernas sempre curta demais. ( O
paradoxo é que deveria aceitar de bom grado essa condição de manca, porque
também isto fazia parte de sua condição). (Só quando queria andar certo com o
mundo é que se estraçalhava e se espantava. [...] ( Lóri se cansava muito
porque não parava de ser)”
(Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres
– Clarice Lispector)
Eu
não sei se já disse, mas se não disse, digo agora: Clarice Lispector é uma
grande amiga.
Na
semana do Dia internacional da mulher, quis mesmo escolher uma mulher pra estar
entre nós. Pensei nas clássicas: Jane Austen, Simone de Beauvoir, J.K. Rowling,
e cheguei à conclusão de que queria Clarice, a queridinha das meninas
literárias e a piada dos meninos não tão literários.
Conheci
a autora com dezesseis anos, quando começava a ser uma menina literária.
Conheci através de Macabéa, de A hora da
estrela. Nessa idade, considerei o livro profundo e engraçado (hoje o considero
um monte de coisas, mas não tão engraçado). Desde então, quis me aproximar de
tudo que se referia à Clarice. Aqui estou eu com uma citação de Uma aprendizagem, um livro cheio de
filosofia e amor.
Pra
mim, Lóri, a personagem principal dessa obra, é uma das mulheres mais comuns
que Clarice criou: cheia de inseguranças, vaidades e medos. Talvez eu diga isso porque ela é o protótipo
que os homens têm de mulher complicada, ou talvez eu diga isso porque ela é a
personagem que mais reflete as minhas inseguranças, vaidades e medos. Todas as
incertezas de Lóri se tornam assustadoramente aparentes quando ela conhece
Ulisses, que é o tipo de cara que a gente quer, mas não quer querer porque ele é
irritantemente convencido.
Ulisses
quer ensinar Lóri a viver – e realmente ensina – antes de eles se envolverem
emocionalmente. Mas é tanta ansiedade no corpo da moça que ela balança entre a
carência e o orgulho nessa descoberta da satisfação. O livro gira em torno desse caminho do casal.
A
pergunta que eu sempre me faço quando releio o livro é:quem não balança, não se
desequilibra, no caminho do aprendizado? A fome de aprender a ser, “a andar
certo com o mundo”, é que torna nosso coração cansado, numa sucessão
ininterrupta de experiências para finalmente conseguir ser. Isso, e não o fato
de ser mulher, é que torna alguém complicado.
Tentar
entender o porquê de haver um inconsciente coletivo machista de que as mulheres
são mais complicadas que os homens pode não valer tanto a pena quanto entender,
de uma vez, que tentar viver é que é difícil. Por isso, as pessoas difíceis são
as que, mais insistentemente, tem tentado aprender a viver. Quanto mais se
tenta, mais o mundo muda, e mudam com ele as fórmulas da felicidade e de tudo
que você busca na vida. A vontade e a pressa de ser, e ser como se deve ser,
faz de todos nós um bando de gente muito engraçada. Meio mancando meio
dançando, a gente corre também pra não ficar pra trás.
Nessas
horas me lembro de um cara (um personagem, na verdade, rs) que disse: “Viver é
muito perigoso”. Poderia ter sido uma mulher, mas não, foi um cara criado no
sertão brasileiro, onde “machismo” e “feminismo” não estão no vocabulário das
pessoas.
Laíza Verçosa









Oi Laiza, a Clarice é fantástica... ela foi uma das primeiras autoras que conheci após entrar no mundo literário, suas obras são fantásticas, ela não escreve simplesmente, Clarice faz algo a mais! =)
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